sábado, 25 de fevereiro de 2012

Breve Passagem por Porto Alegre


Minha jornada teve início em uma breve passagem por Porto Alegre. Como permaneci apenas uma noite, não contatei meus amigos. Achei que todos estariam com a família, já que era noite de natal (25/12). Fiquei em um hotel onde costumava pernoitar, localizado na Avenida Borges de Medeiros. Mas o local está um tanto decadente e, definitivamente, terei que abandonar mais essa tradição. O hotel já foi muito famoso no início do século XX. De fato, as acomodações não parecem ter mudado muito desde então.

A Cidade Baixa continua praticamente a mesma: bares, amigos, casas noturnas, restaurantes e muita gente jovem na rua. Passei em frente ao antigo "Casarão", onde outrora vivia um amigo meu que promovia festas, oficinas de literatura (participei de algumas), sarais em torno da fogueira, exposições artísticas, seções de vídeo-debate e algumas reuniões com tendência claramente (ou inocentemente) subversivas. Conforme conta a história, foi nesse local que ocorreu a primeira greve trabalhista, ainda na época da ditadura. Hoje é possível ver um lindo grafite na faixada frontal com os seguintes dizeres: "Viva a Resistência Popular". Quantos músicos, artistas, operários da poesia, sonhadores ocasionais, filósofos de botequim, anarquistas, mulheres da vida, jovens entusiastas, jogadores de futebol, estudantes, professores, lideranças políticas de esquerda, moradores de rua, catadores de lixo, não passaram por ali? As paredes da velha casa inspiraram em mim certo sentimento de nostalgia e resolvi ir embora sem olhar pra trás. Onde foi parar toda aquela poesia?

Fui até um bar localizado na Lima e Silva, onde tomei meia dúzia de cervejas observando grupos de jovens reunidos por toda parte. Reconheci um que outro, talvez os mais velhos e notei que haviam mudado muito pouco. Voltei para o hotel andando pelas ruelas do antigo centro da cidade. Antes das três da manha já estava dormindo.

No outro dia de manha, acordei cedo e fui tomar café no Mercado Público. Já tinha esquecido como é bom tomar café ali, tendo como cenário a movimentação nervosa dos trabalhadores se deslocando para seus ofícios diários. Depois, fui até a Casa de Cultura Mario Quintana e lembrei de certa ocasião em que tomei uma garrafa de wisky envelhecido com o saudoso poeta. Ele parecia um tanto triste por ter sido recusado pela Academia Brasileira de Letras, mas sem perder o bom humor, concluiu com um sorriso faceiro: "eles passarão e eu passarinho". De fato, foi assim que aconteceu.

Antes de pagar o ônibus em direção ao meu próximo destino, caminhei pela Rua da Praia e tive a saudosa oportunidade de acompanhar a movimentação nas calçadas e no comércio, sem falar nos bancos da praça, os vendedores ambulantes, as revistarias e livrarias, em fim, tudo aquilo que faz do centro de Porto Alegre um local interessante de se frequentar, principalmente, na primeira hora da manha.

Parti com a sensação de que deveria permanecer mais alguns dias. Mas, enfim, a jornada de final de ano estava apenas começando e o destino ainda me reservaria algumas surpresas agradáveis.